sábado, 29 de agosto de 2009

PARA REFLETIR....

A leitura do texto “O menininho” de Helen Buckley, sugerido pela professora da interdisciplina de Didática, Planejamento e Avaliação, fez-me refletir sobre a prática pedagógica em sala de aula. Quantas vezes já não fizemos como a professora do texto, muitas vezes sem perceber, dando modelos prontos para que os alunos façam ou nos dêem a resposta exatamente como queremos engessando nossos alunos, podando sua imaginação e criatividade.



Uma manhã a professora disse:
- Hoje nós iremos fazer um desenho.
“Que bom!”, pensou o menininho. Ele gostava de desenhar.
Leões, tigres, galinhas, vacas, trens e barcos... pegou sua caixa de
lápis de cor e começou a desenhar.
- Esperem, ainda não é hora de começar!
Ela esperou até que todos estivessem prontos.
- Agora, nós iremos desenhar flores.
E o menininho começou a desenhar bonitas flores com seus
lápis rosa, laranja e azul.
- Esperem, vou mostrar como fazer.
E a flor era vermelha com o caule verde.
- Assim, disse a professora, agora vocês podem começar.
O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para
a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas não podia dizer isto... virou
o papel e desenhou uma flor igual a da professora. Era vermelha
com o caule verde. BUCKLEY,


Resolvi testar a turma fazendo exatamente como a professora do menininho. Propus para a turma desenhar e pintar uma flor, exatamente como a minha, no início eles resistiram, perguntando se não poderiam fazer do jeito deles ou usarem outra cor. Insisti que não, que tinha que ser exatamente igual a minha. Por fim eles fizeram como pedi para me agradar. Desenharam uma flor vermelha com o caule e folha verde. Eles não entenderam porque não os deixei livres para desenhar e pintarem do seu jeito. Geralmente a minha prática pedagógica é incentivar que usem da imaginação, da criatividade e invente. Eles sempre tiveram a liberdade de realizarem as atividades do seu jeito, sem medo de errar, pois sempre digo para que tente fazer mesmo que errem, pois temos o direito de errar para acertar, e de aprendermos juntos.
Não estou dizendo que nunca uso xérox com desenho pronto, mas quando utilizo este tipo de recurso sempre tenho um objetivo, seja pintar respeitando o limite, ou recortar e colar em outra folha, ou colar a figura no desenho livre de uma paisagem. Com estas atividades também procuro desenvolver a motricidade fina.

Então, aconteceu que o menininho teve que mudar de escola...
Esta escola era ainda maior que a primeira.
Ele tinha que subir grandes escadas até a sua sala...
Um dia a professora disse:
- Hoje nós vamos fazer um desenho.
“Que bom!”, pensou o menininho. E esperou que a professora
dissesse o que fazer. Ela não disse. Apenas andava pela sala.
Quando veio até o menininho falou:
- Você não quer desenhar?
- Sim. O que é que nós vamos fazer?
- Eu não sei, até que você o faça.
-Como eu posso fazer?
- Da maneira que você gostar.
- E de que cor?
- Se todo mundo fizer o mesmo
desenho e usar as mesmas cores, como eu
posso saber qual o desenho de cada um?
- Eu não sei!
E começou a desenhar uma flor vermelha com um caule
verde. BUCKLEY,

Depois do desenho da flor vermelha, levei os alunos para passear e observar a natureza ao redor da escola. Convidei-os para pintar com tinta a natureza observada por eles, cada um escolheu o que ia pintar. As pinturas saíram lindíssimas, umas diferentes das outras. Expomos as pinturas no mural da escola. Através desta atividade os alunos tiveram a oportunidade de escolha, de decisão e de poder usar a própria criatividade. De acordo com SIMKA:

"Gostaria de dizer que ainda grassam no espaço acadêmico professores cuja postura se assemelha à da primeira professora. Como conseqüência, encontramos alunos com bloqueios de linguagem, da criatividade, do pensamento criador, inibidos em sua auto-expressão".


Com esta experiência aprendi como é importante continuar oportunizando aos alunos a liberdade de escolha, para que no futuro saibam fazer escolhas, sendo livres para criar, inovar, sonhar e inventar sem medo de se arriscar e de errar.







REFERÊNCIAS


BUCKLEY, HELEN – O menininho – Tradutor Desconhecido

SIMKA, SÉRGIO – Professor nas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires e na Universidade do Grande ABC – Revista Ensino Superior – Edição 87. Site:
http://revistaensinosuperior.uol.com.br/textos.asp?codigo=11137

2 comentários:

Catia Zílio disse...

Olá Valéria!
Parabéns!! Teu registro está muito rico em evidências das tuas práticas e das relações que consegues estabelecer com as teorias em estudo.
Em relação ao relato da experiência realizada com teus alunos fiquei curiosa sobre a forma que conduziste a atividade. Quando escreves "Eles não entenderam porque não os deixei livres para desenhar e pintarem do seu jeito" fica um questionamento: em algum momento isto foi discutido ou analisado com a turma? Será que este momento com os alunos seria importante/relevante?
Seguimos conversando!
Abraços, Cátia

Aproveito para indicar um outro texto semelhante tem o título: "Onde já se viu árvore roxa?" tentei encontrá-lo na web para te passar a referência, mas não encontrei. Trata-se de um artigo escrito por Nize Maria Campos Pellanda e foi publicado no livro... PSICANALISE HOJE: UMA REVOLUCAO DO OLHAR
Encontrarás um pequeno trecho dele no link http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=51

Giselda Correa disse...

Olá Valéria... Ao ler teu relato, logo lembrei do relato da colega Maria Helena, que também trouxe uma história parecida com a abordada no texto “ O menininho”. Ela coloca que o filho de uma colega , que freqüentava a 3ª série, tinha uma professora bem tradicional e exigente, que dava muito valor para as redações em português, ela gostava de redações perfeitas e sempre aconselhava seus alunos a primeiro fazerem um rascunho, para depois transcrever para caderno ou folha para entregar. Um dia, o menino leu para os pais uma redação muito bonita, com um enredo fantasioso, mas bem longa, então a mãe perguntou se era a redação que teria de entregar para a professora, ele disse que não, ele fizera duas redações, a do jeito dele (que ele leu para os pais), e a que ele deveria entregar para a professora pela manhã, com três parágrafos e acentuação impecável.
É preciso superar esta postura de professor transmissor de conhecimentos e fazer uma educação de um para com o outro e não de um para o outro. Como coloca Emilia Ferreiro: "Por trás da mão que pega o lápis,dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam,há uma criança que pensa" . Abs. Gi.