quarta-feira, 3 de novembro de 2010

RETROSPECTIVA DO 7º SEMESTRE DO CURSO DE PEDAGOGIA A DISTANCIA DA UFGRS.

Neste semestre que antecede o estágio supervisionado, percebi uma preocupação maior em nos preparar para o estágio docente. Os professores através do Seminário Integrador VII apresentaram novas propostas de: Projetos de Aprendizagens e Arquiteturas Pedagógicas com atividades disparadoras que despertassem o interesse dos alunos.

Através do texto Arquitetura Pedagógica, percebi que a intenção é criar arquiteturas que despertem o interesse e levem os alunos a um resultado positivo de aprendizagem, através dos recursos que possuímos na escola. De acordo com Carvalho; Nevado e Menezes (s/d, p. 7) quando afirmam que a intenção é “[...] criar arquiteturas com tarefas que podem não ser tão interessantes, mas que são necessárias à realização de um objetivo maior, de modo que o resultado final é positivo e desejado.”

Proporcionar também aos alunos Projetos de Aprendizagens, onde eles sejam sujeitos ativos na construção da aprendizagem. Segundo Carvalho; Nevado e Menezes (s/d, p. 3)

“Educar para a autoria, a expressão, a interlocução - as atividades de autoria e expressão, definidas pelo próprio sujeito, permitem que esse possa construir e reinventar seus projetos para receber e para responder a desafios, para manifestar seu mundo interior. Nesse sentido, a interlocução entre sujeitos-autores, reconstrói constantemente os “ambientes de aprendizagem”, pois sua própria essência está na idéia de transformação.”

Partindo dos estudos realizados elaborei meu Projeto de Estágio contemplando com projetos de aprendizagem direcionados para alguns conteúdos a serem trabalhos e também deixe em aberto a elaboração de projetos que partissem do interesse dos alunos. Meus planejamentos também contemplaram arquiteturas pedagógicas, com os recursos que tinha na escola e na comunidade, o que contribuiu para manter o interesse dos alunos na realização das atividades propostas.

Através da interdisciplina de Educação de Jovens e Adultos, aprendi muito sobre a EJA, através das leituras e atividades realizadas, pois não tinha conhecimento e nem experiência sobre Educação de Jovens e Adultos. Descobri a importância de reconhecer para quem estamos planejando uma proposta pedagógica levando em consideração suas especificidades culturais, para isso precisamos conhecer e refletir sobre esse sujeito, sua história, sua família e qual o grupo cultural que ele faz parte. Não se esquecendo da condição, deste sujeito, de não ser mais criança, de ser excluído da escola e de pertencer a um grupo social, assim se torna relevante refletirmos sobre como pensam e aprendem os jovens e adultos. Neste sentido concordo com Oliveira (1999, p. 60):

“Refletir sobre como esses jovens e adultos pensam e aprendem envolve, portanto, transitar pelo menos por três campos que contribuem para a definição de seu lugar social: a condição de “não-crianças”, a condição de excluídos da escola e a condição de membros de determinados grupos culturais.”

Entretanto, a organização da escola com EJA deve procurar adequar seus currículos, programas e métodos de ensino, para que estes alunos percebam-se inseridos numa dada realidade, e se apropriem de sua própria história. Compondo uma relação dialética, onde fazer, pensar, fazer, colabora para superação das dificuldades, havendo um real processo de aprendizagem, numa sintonia harmoniosa entre escola e alunos. São sujeitos que apresenta diferentes níveis de competências e dificuldades, que nos mostra uma grande heterogeneidade, independente de pertencerem a um mesmo grupo cultural, ou a diferentes grupos culturais. Por esse motivo, não podemos tratá-los de forma homogênea, devido às suas diferentes características.

Diferentes grupos culturais podem agregar pessoas tanto com características comuns, quanto antagônicas, que trazem suas vivências, suas identidades, seus interesses e suas expectativas em relação à escola, sendo esta um local de confronto de culturas e também um local de encontro de singularidades, nela o aluno deve ser sujeito do seu próprio pensar, principal autor e ator de sua própria aprendizagem.

As mesmas propostas pedagógicas de alfabetização e letramento para os alunos da EJA podem ser propostas para os alunos que freqüentam a escola regular, pois ambos têm o mesmo objetivo que é conduzir à alfabetização e ao letramento, a diferença se fará frente a postura do professor e na prática pedagógica desenvolvida em sala de aula. Conforme Hara (1992, p. 18)

“Assim como na formação do pensamento das crianças há etapas de desenvolvimento, para os adultos analfabetos também. E, como para elas, a progressão nas etapas depende de uma construção efetivada a partir de desafios, informações, interrelação com o meio”.

Assim como quando uma criança entra na escola ela já traz consigo inúmeras concepções, e cada uma a sua visão de mundo, que se agregam as suas idéias sobre o código escrito. Assim também o aluno da Educação de Jovens e Adultos traz sua vivência e sua experiência do seu contexto social para dentro da sala de aula. Estes conhecimentos devem ser valorizados na prática pedagógica, para que o sujeito seja o construtor do conhecimento no processo de letramento e alfabetização.

A interdisciplina de Didática, Planejamento e Avaliação contribuiu para refletir sobre planejamento, avaliação e aprendizagem baseada em projetos, o que proporciona a construção do conhecimento pelo próprio sujeito, através das descobertas espontâneas, sendo positiva quando parte do interesse e da experiência dos alunos, tendo significado para os mesmos. Hernández e Montserrat (1998, p. 3), destacam que: [...] o princípio da aprendizagem por descoberta, que estabelece que a atitude para a aprendizagem por parte dos alunos é mais positiva quando parte daquilo que lhes interessa, e aprendem da experiência do que descobrem por si mesmos. Entretanto, em qualquer nível que seja elaborado e aplicado o projeto, o essencial é que este parta da iniciativa e colaboração dos alunos, juntamente com o professor.

Planejar é observar, investigar e pensar “para que”, “como” e “para quem” estamos planejando, focando nos aspectos teóricos e na ação pedagógica a ser tomada, para isso a discussão entre o grupo de professores, segundo Rodrigues (2001, p. 3) “promoveria a explicitação das concepções que permeiam a prática do estabelecimento, podendo a este exercício incluírem-se algumas perguntas orientadoras: [...]”

Para Paulo Freire (2005) o planejamento pedagógico a partir de temas geradores, seja para adultos ou crianças, busca entender os homens, para que eles se entendam e tenham a oportunidade de conviver, superar, transformar e agir sobre sua realidade, transformando-a ativamente. A educação passa pelas problemáticas, que criam espaços de conscientização, para tornar o sujeito crítico e consciente, capaz de buscar e produzir conhecimento. É o conhecimento carregado de significado para os sujeitos envolvidos, que trará significância à aprendizagem.

Na interdisciplina de Linguagem e Educação aprendi sobre práticas de leitura, escrita e oralidade no contexto social. Sabemos que a fala antecede a escrita, assim qualquer pessoa, criança ou adulto, mesmo que não alfabetizado consegue se expressar, se fazer entender e contar “causos” e histórias. Conforme Rojo (2006, p. 11)

“[...] se a fala antecede ou tem prece­dência sobre a escrita, não é senão no sentido em que o discurso oral é o meio e a trama pelo qual todas as constru­ções do propriamente humano são arquitetadas: a própria fala, o sujeito, o outro, o mundo para o sujeito, a fala à maneira da escrita (a fala letrada) e, finalmente, como objeto do/no mundo, a própria escrita em sua materialidade.”


Todos nós somos alfabetizados e letrados, de acordo com Trindade (2005, p. 6), apenas dependendo: “[...] dos domínios que temos e dos usos que fazemos das tecnologias de que dispomos [...]” e as reflexões acerca deste assunto exige de nós “[...] novos olhares sobre os diversos artefatos e práticas sociais e escolares de alfabetização e alfabetismo.”

Ciente de que os alunos têm contato diariamente com o mundo letrado sejam através de propaganda, livros, jornais e as novas tecnologias, tornando-se necessário que o professor saiba explorar esses recursos em sua prática pedagógica, pois as novas tecnologias facilitam a aprendizagem, inclusive a comunicação dos surdos.

Refletindo sobre os estudos realizados na interdisciplinas de Linguagem e Educação e Língua Brasileira de Sinais- LIBRAS. Percebi a importância de conhecermos mais sobre a comunidade surda, sua cultura e sua Língua. Essa falta de conhecimento leva as pessoas a pensarem que sabem libras porque usam alguns sinais e gestos para se comunicarem com os surdos. Não tendo conhecimento de que a libras é como qualquer outra Língua, por exemplo, Língua Inglesa, Língua Indígena, Língua Portuguesa tão complexa como as demais, que expressam sentimentos, emoções e idéias e que através dela os surdos se comunicam e aprendem fazendo uma leitura de mundo. Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 31) “[...] a língua de sinais é uma língua de fato, e também independe de língua oral. As línguas de sinais são autônomas e apresentam o mesmo estatuto lingüístico identificado nas línguas faladas [...]”.

Sabendo que os alunos surdos necessitam de um atendimento diferenciado, e acreditando que freqüentar também a escola regular seria benéfico para ambos os lados. Nesta linha de pensamento e de reflexão, ao planejarmos temos que considerar para quem estamos planejando seja para quem for, e considerando todas as necessidades do grupo, deve ser um exercício consciente e minucioso, cercado de idas e vindas no intuito de acertar e transformar vidas.

REFERÊNCIAS:


CARVALHO, M. J. S.; NEVADO, R. A. de e MENEZES, C. S. de. Arquiteturas Pedagógicas para Educação a Distância: Concepções e Suporte Telemático. S/d. Disponível em: http://grupospasaoleo.pbworks.com/f/arquiterura+pedagogica.pdf acesso em 11/10/2010.

FREIRE, Paulo. A dialogicidade – essência da educação como prática da liberdade. In: _____. Pedagogia do Oprimido. 40ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

HARA, Regina. Alfabetização de adultos: ainda um desafio. São Paulo: CEDI, 1992.

HERNÁNDEZ, Fernando; MONTSERRAT, Ventura. Os projetos de trabalho: uma forma de organizar os conhecimentos escolares. In: _____. A organização do currículo por Projetos de Trabalho. 5ª edição, Porto Alegre: Artmed, 1998. Disponível em:
http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/didatica/unidade2/pedagogia_de_projetos/projetos_de_trabalhos.pdf acesso em 11/10/2010

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Revista Brasileira de Educação, Set./Out./Nove./Dez. 1999.

QUADROS, Ronice Muller de, KARNOPP, Lodenir Becker, Língua de Sinais Brasileira: Estudos lingüísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.

RODRIGUES, Maria Bernadette Castro. Planejamento: em busca de caminhos. In: XAVIER, Maria Luisa; DALLA ZEN, Maria Isabel (Orgs.). Planejamento em Destaque: análises menos convencionais. 2. ed. Porto Alegre: Mediação, 2001.

ROJO, R. H. R. Concepções não-valorizadas da escrita: a escrita como “um outro modo de falar”. 2006. Disponível em:
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:TXoiwIhdHAEJ:www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/linguagem/leitura_complementar_1_rojo__2006.doc+ROJO,+R.+H.+R.+Concep%C3%A7%C3%B5es+n%C3%A3o-valorizadas+da+escrita:+a+escrita+como+%E2%80%9Cum+outro+modo+de+falar%E2%80%9D.+2006&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br acesso em 14/10/2010

TRINDADE, Iole Maria Faviero . Um olhar dos Estudos Culturais sobre artefatos e práticas sociais e escolares de alfabetização e alfabetismo. 2005.