quinta-feira, 29 de outubro de 2009

COMPLEMENTAÇÃO DE POSTAGEM:

Na postagem anterior do dia 12 de outubro de 2009, com o título: A PALAVRA FALADA TECE TODAS AS TEIAS QUE ENTRELAÇAM A VIDA DO SER HUMANO. Faltou uma complementação na postagem para situar o leitor em que contexto ocorreu à citação da narrativa da aluna da Ed. Infantil.
Minha reflexão partiu da atividade desenvolvida na interdisciplina de Linguagem e Educação do curso de pedagogia a distância da UFRGS, foi pedido que fizéssemos uma análise tendo como base as leituras propostas pela professora, da narrativa de uma criança ou adulto em fase inicial de escolarização.
Eu escolhi uma criança da Educação Infantil de uma das escolas em que atuo como professora. Nesta turma eu entro uma vez por semana com o Projeto de Educação Ambiental. Enquanto eles desenvolvem as atividades tenho a oportunidade de ouvir os seus relatos. A menina Sofia estava alegre, conversando com os colegas sobre a sua festa de aniversário que tinha ocorrido no dia anterior na sala de aula. Aproveitei para ouvir e transcrever o seu relato. Enquanto ouvia e transcrevia, pedi que fizesse um desenho.

Narrativa da criança:

Ontem eu comi bolo. Tava bom.... meu aniver era do inter. Servi pratinhos, servi os copos e a professora serviu o refri. O bolo era de chocolate com negrinho em cima. Tinha balão.
Peguei umas pulseirinhas que eu ganhei de aniver, tava muito bom a festa e não tinha música.
Eu escolhi um amigo da sala e eu escolhi o Robson, todo mundo tava aqui.
O Andrews gostou do meu bolo, é que tava muito bom.
Fui pra casa com a mãe.
A Lara queria pegar a minha bici e tava estragada.
Eu não deixei porque a rodinha tava solta

Na análise realizada da narrativa da menina Sofia de 5 anos, percebi que ela misturou alguns fatos embora houvesse coerência nas suas falas, parecendo-me que hora estava falando de coisas que realmente aconteceram, como a sua festa e hora agregando elementos que não se concatenavam com a cena descrita: “a irmã e a bicicleta”.
Para maior compreensão dessa reflexão, sugiro que façam a leitura da postagem anterior.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A PALAVRA FALADA TECE TODAS AS TEIAS QUE ENTRELAÇAM A VIDA DO SER HUMANO.

Refletindo sobre minha aprendizagem, após realizar as leituras propostas na interdisciplina de Educação de Jovens e Adultos e na interdisciplina de Linguagem e Educação do curso de pedagogia a distância da UFRGS, sobre: Práticas de Leitura, escrita e oralidade no contexto social.
Aprendi que a parte fantasiosa das narrativas infantis tem a ver com a maneira como cada uma percebe o mundo e como elabora seus sentimentos, frustrações, alegrias, angústias. Essa mistura de realidade e fantasia em princípio tão entrelaçada vai aos poucos se distanciando, se reorganizando até se separar por completo uma da outra, e naturalmente. Segundo a autora:


A distinção entre ficção e realidade ainda está em desenvolvimento nos anos da Educação Infantil - um aspecto que sempre deve ser considerado nas conversas com os pequenos. Isso se relaciona com uma das características mais vivas do pensamento da criança: o sincretismo, ou seja, a liberdade de associar elementos da realidade segundo critérios pessoais, pautados principalmente por afetividade, observação e imaginação. GURGEL (2009, p. 03)


Ao ouvir a narrativa de uma aluna da educação infantil sobre sua festa de aniversário, percebi que ela misturou alguns fatos da festa na sala de aula com outros acontecimentos, embora houvesse coerência nas suas falas.
É normal as crianças misturarem fantasia à realidade durante suas histórias. O adulto deve compreender que a criança está passando por uma fase e que dessa forma está organizando seu mundo É preciso encarar esta fase com a maior naturalidade possível, pois dela está surgindo o desenvolvimento afetivo e cognitivo dos pequenos e junto a isso o chamado discurso narrativo.
Percebi que o mais importante durante estas narrativas, recheada de jogos de faz de conta é que não devemos nos precipitar acreditando ser verdade tudo que está sendo narrado, mas que também não ignoremos. Conclusões precipitadas não auxiliariam em nada as crianças.
Os professores em sua prática pedagógica, assim como os pais no seu cotidiano, devem incentivar as falas das crianças, não se detendo apenas no que a criança está realmente falando, mas buscando o significado das palavras ditas, e pressupondo as não ditas, as intenções de fala, para então ajudá-las a expressar-se cada vez melhor.
Sabemos que a fala antecede a escrita, assim qualquer pessoa, criança ou adulto, mesmo que não alfabetizado consegue se expressar, se fazer entender e contar “causos” e histórias. De acordo com a autora:

[...] se a fala antecede ou tem prece­dência sobre a escrita, não é senão no sentido em que o discurso oral é o meio e a trama pelo qual todas as constru­ções do propriamente humano são arquitetadas: a própria fala, o sujeito, o outro, o mundo para o sujeito, a fala à maneira da escrita (a fala letrada) e, finalmente, como objeto do/no mundo, a própria escrita em sua materialidade. ROJO (2006, p. 11)

Os estágios de construção da escrita que os adultos apresentam são os mesmos identificados nas crianças. Conforme a autora afirma:

“Assim como na formação do pensamento das crianças há etapas de desenvolvimento, para os adultos analfabetos também. E, como para elas, a progressão nas etapas depende de uma construção efetivada a partir de desafios, informações, interrelação com o meio”. HARA (1992, p. 18)

Assim como quando uma criança entra na escola ela já traz consigo inúmeras concepções, e cada uma a sua visão de mundo, que se agregam as suas idéias sobre o código escrito. Assim também o aluno da Educação de Jovens e Adultos traz sua vivência e sua experiência do seu contexto social para dentro da sala de aula. Estes conhecimentos devem ser valorizados na prática pedagógica, para que o sujeito seja o construtor do conhecimento no processo de letramento e alfabetização.
A palavra falada tece todas as teias que entrelaçam a vida do ser humano.
É pela palavra que passa a fala, o próprio sujeito, o outro, o mundo, a fala letrada, e a própria escrita, como parte do sujeito inserido no mundo e, aprendiz e construtor do seu próprio mundo.
Assim como a escrita tem suas fases de desenvolvimento a palavra falada também o tem, ou seja: primeiramente a criança emite sons estranhos, balbucia, fala pequenas palavras, constrói: pequenas frases de 3 a 4 palavras para depois dominar e imprimir sentido lógico e organização de idéias, seqüenciando os fatos através da fala de forma coerente.
Vários aspectos: psicológicos, neurológico, lingüístico, precisam ser amadurecidos, até que a criança alcance uma linearidade nas colocações feitas através da fala.
Outro ponto a ser destacado é a interrelação entre a palavra falada, o letramento e a alfabetização. Uma pessoa não alfabetizada não é incapaz de contar uma história, mas seu universo vocabular é bem mais restrito o que acaba por limitá-la. Ela evolui não isoladamente, mas interagindo com o meio: falando, refletindo, questionando e trocando informações com o outro.



REFERÊNCIAS:


HARA, Regina. Alfabetização de adultos: ainda um desafio. 3. ed. São Paulo: CEDI, 1992.

ROJO, Roxane Helena Rodrigues - Concepções não-valorizadas da escrita: como “um outro modo de falar”, 2006.

Texto: Tem um mostro no meio da história (GURGEL, 2009) -- in http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/linguagem/