segunda-feira, 31 de maio de 2010

O EGOCENTRISMO PRESENTE NA SALA DE AULA

Refletindo sobre minha aprendizagem como docente, durante o estágio percebi o quanto senti necessidade de retomar as leituras realizadas durante as interdiciplinas do curso de pedagogia a distância da URGS. Busquei com isso embasamento para minha prática pedagógica, e me dei conta de como estão sendo importantes para realizar os planejamentos e as reflexões.
Hoje resolvi escrever sobre como as leituras estão me ajudando a compreender e a lidar com o egocentrismo que ainda está bem presente na sala de aula, o que é normal nesta faixa etária dos seis anos. Segundo Marques (2005):

“A capacidade simbólica da criança pré-operatória é marcada pelo egocentrismo já que, em função da ausência de um equilíbrio entre os processos de assimilação e acomodação, há muitas assimilações deformantes da realidade ao eu, sem uma acomodação completa. Logo, o pensamento da criança pré-operatória é egocêntrico, o que significa que não é capaz de lidar com idéias diferentes das suas em relação a um determinado tema.” (p, 59)


Tenho percebido como as crianças disputam entre si por diferentes motivos: pela atenção, amizade, e até pelo mesmo brinquedo. Esta semana houve uma briga entre os colegas porque uma das crianças quer a amizade de outra só para si, não quer que ela brinque com os demais, pois acha que ela tem que ser só sua amiga. Eu intervi explicando que todos devem brincar juntos e serem amigos, mas percebo que só conversar e explicar não resolve, porque para a criança não é fácil lidar com opiniões diferentes da suas. Durante as brincadeiras também é visível a postura egocêntrica, percebe-se que as crianças brincam muitas vezes ao lado das outras crianças, mas brincar com os colegas, especialmente com mais de dois ao mesmo tempo acaba provocando atritos, pois a criança acaba ficando muito centrada em si mesma e desconsidera o querer, o desejo, a necessidade e a presença do outro.
Para Marques (2005):

“Embora muitos interpretem-no como perda de tempo, o brincar é, ao contrário, o alimento para o intelecto da criança, como se pode ver na obra que se debruçou sobre a questão do jogo: A formação do símbolo na criança. Piaget (1976) questiona-se a respeito das implicações que o brincar possa ter para a educação, já que ele permite o desenvolvimento cognitivo: por que não transformar a educação em uma atividade lúdica? E isso não poderia ser estendido a qualquer grau de ensino?” ( p, 87)

O brincar, o brinquedo e as brincadeiras grandes estímulos ao desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da criança, assim como contribuem para o desenvolvimento físico e psíquico das crianças. Toda criança precisa poder brincar e cabe ao professor estar atento e proporcionar estes momentos entendendo não como um premio, mas como uma necessidade.
A brincadeira contribui na socialização, pois oferece oportunidades de realizar atividades coletivas livremente, além de contribuir positivamente com o processo de aprendizagem, estimular o desenvolvimento de habilidades básicas e a aquisição de novos conhecimentos, também ajuda a criança a lidar de uma maneira mais espontânea e natural, consequentemente menos dolorosa com aspectos relativos ao egocentrismo.

"No desenvolvimento a imitação e o ensino desempenham um papel de primeira importância. Põem em evidência as qualidades especificamente humanas do cérebro e conduzem a criança a atingir novos níveis de desenvolvimento. A criança fará amanhã sozinha aquilo que hoje é capaz de fazer em cooperação. Por conseguinte, o único tipo correto de pedagogia é aquele que segue em avanço relativamente ao desenvolvimento e o guia; deve ter por objetivo não as funções maduras, mas as funções em vias de maturação" (Vigotski, 1989, p. 138).


Não é apenas a espontaneidade do jogo que o torna uma atividade importante para o desenvolvimento da criança. Ele é importante pelo exercício que proporciona no plano da imaginação da capacidade de planejar, na possibilidade de imaginar situações diversas, de representar papéis e situações que vivem no dia a dia, bem como, o caráter social das situações lúdicas, os seus conteúdos e as regras que surgem a cada situação.
Por isso tenho proporcionado brincadeiras e atividades que envolvem cooperação, socialização e união.
Através das leituras, aliadas a minha prática, aprendi que devo continuar contemplando nos meus planejamentos atividades que socializem, buscando entre eles a amizade, o companheirismo, a solidariedade e a cooperação, através do brincar, do jogo simbólico, do faz de conta, do teatro, da música e dos trabalhos em grupo em que precisam se ajudar e compartilhar materiais.
Para Montenegro e Maurice-Naville (1998, apud Marques 2005, p. 79) o conceito de cooperação merece destaque na contraposição ao egocentrismo. Ela “consiste no ajustamento do pensamento próprio ou das ações pessoais ao pensamento e às ações dos outros, o que se faz pondo as perspectivas em relação recíproca. Assim, um controle mútuo das atividades é exercido entre os parceiros que cooperam”.
Espero estar no caminho certo ao buscar a participação dos alunos em atividades que necessitem de cooperação entre si. Penso que com isso eu esteja colaborando para que haja a descentralização do egocentrismo na turma do primeiro ano.


REFERÊNCIAS


MARQUES, Tania Beatriz Iwaszko. Do Egocentrismo à Descentração: a docência no ensino superior. Porto Alegre: UFRGS, 2005. Tese de doutorado.

VIGOTSKI, Lev. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

Um comentário:

Catia Zílio disse...

Olá Valeria!
Vejo que estudos realizados ao longo do PEAD tem sido bem importantes para este momento de teu estágio. As retomadas das leituras que vens fazendo qualificam tua escrita e são uma preparação para o TCC. Assim, sugiro que procure reler tuas produções de modo a organizar melhor tuas ideias e dar mais clareza às tuas reflexões.
Nesta postagem, inicia falando do egocentrismo de teus alunos e das tuas ações diante dele, porém faltou uma ligação mais direta com a segunda citação. Tive a impressão de que o texto ficou meio "solto", mas percebi que conseguiste relacionar as duas citações de forma mais clara e objetiva no parágrafo final. O que achas?
Seguimos conversando.
Abraços, Cátia

PS. não é necessário editar esta postagem, minhas colocações são propostas para pensar nas tuas próximas produções.