segunda-feira, 7 de junho de 2010

A DIFÍCIL TAREFA DO DISCURSO ORAL

Esta chegando mais uma vez a apresentação final do semestre, com WORKSHOP. Já era para estar preparada para falar, defendendo e expressando oralmente minhas aprendizagens para uma banca de professores e colegas, pois desde 2006 que o curso de pedagogia a distância da UFRGS vem nos preparando para enfrentarmos este momento. Mas sempre provoca aquele friozinho na barriga, e o medo aparece. Mas que culpa temos se não somos preparados pela escola para falarmos em público. Há aqueles que já nascem com o dom da palavra. Mas os que não dispõem desse dom? Segundo a reportagem sobre “A fala que se ensina” da revista Nova Escola, fico pensando qual o papel da escola? “Por alguns instantes, volte ao passado: algum professor ajudou você a saber como falar? Salto para o presente: na sua prática em sala, você se preocupa em abordar conteúdos da oralidade? É possível que a resposta às duas perguntas seja a mesma: um sonoro "não".”(Ed. 215. 09/2008)
Não lembro no meu tempo escolar de algum professor ter criado situações em que pudéssemos nos expressar oralmente. Se bem me lembro sempre sentávamos um atrás do outro e copiávamos do quadro e repetíamos as lições conforme o professor mandava. Houve uma vez, já no segundo grau, que tentei expor minha opinião sobre um assunto, simplesmente o professor disse que não poderíamos falar e discutir sobre o assunto e ponto final. Talvez por ser na época da ditadura, não sei.
Mas será que continuamos a reproduzir essas situações como docentes em nossas salas de aula? Não proporcionando situações em que os alunos possam se expressar e se preparar para saber defender suas idéias e se apresentar em público.
Já ouvi professores dizerem que o aluno não se preparou bem para a exposição de um trabalho oral. Mas em que momento nos professores proporcionamos situações reais em que o nosso aluno possa aprender a preparar-se. Além de nos preocuparmos com os conteúdos a serem desenvolvidos, devemos pensar em intervenções e situações didáticas para que as crianças aprendam a expressar-se de modo formal ou informal. De acordo com a reportagem da revista Nova Escola, a escola precisa preparar a criança a expor o que aprendeu utilizando a linguagem oral adequadamente.

"Cabe à escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral nas diversas situações comunicativas, especialmente nas mais formais", afirmou o psicólogo suíço Bernard Schneuwly em entrevista à NOVA ESCOLA em 2002. Considerado um dos maiores estudiosos sobre o Desenvolvimento da oralidade, ele defende que os gêneros da fala têm aplicação direta em vários campos da vida social - o do trabalho, o das relações interpessoais e o da política, [...] (Revista Nova Escola, 2008)


Refletindo sobre a importância da oralidade, percebo a necessidade de permear práticas pedagógicas que valorizem o desenvolvimento desta habilidade em todas as fases de escolarização, desde a Educação Infantil, com situações comunicativas em sala de aula. Infelizmente o que se percebe e que na medida em que as crianças crescem, as oportunidades de manifestação oral tornam-se mais escassas. Dão-se poucas oportunidades para os alunos maiores manifestarem-se oralmente durante as atividades e, muitas vezes, a fala fica restrita a resposta de alguma pergunta.
Na turma do primeiro ano em que estou realizando meu estagio de pedagogia, procuro privilegiar estes momentos de escuta dos alunos, as situações de conversa com os pequenos devem ser intensamente exploradas no cotidiano, sendo importante para que a criança desenvolva a oralidade para que possa se expressar nas mais diversas situações. Acredito que a expressão oral também favorece a alfabetização. Segundo Rojo (2006) quando afirma que a fala antecede a escrita:

[...] se a fala antecede ou tem prece­dência sobre a escrita, não é senão no sentido em que o discurso oral é o meio e a trama pelo qual todas as constru­ções do propriamente humano são arquitetadas: a própria fala, o sujeito, o outro, o mundo para o sujeito, a fala à maneira da escrita (a fala letrada) e, finalmente, como objeto do/no mundo, a própria escrita em sua materialidade. (p. 11)

Acredito que oportunizar situações de diálogo com as crianças do primeiro ano, explorando esses momentos espontâneos. É garantir espaços para que as crianças contem as novidades, realizem avaliações sobre suas aprendizagens, dificuldades, conflitos, troquem idéias, enfim, é um espaço garantido de troca e interação. Dar oportunidade de desenvolver a oralidade e a própria escrita, como parte do sujeito inserido no mundo e, aprendiz e construtor do seu próprio mundo.


REFERÊNCIAS

Revista Nova Escola. A fala que se ensina. In http://revistaescola.abril.uol.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/fala-se-ensina-423559.shtml acesso em 05-06-2010.

ROJO, Roxane Helena Rodrigues. Concepções não-valorizadas de escrita: a escrita como “um outro modo de falar”. In: KLEIMAN, Angela. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2006. p. 65-89. In http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/linguagem/ acesso em 05-06-2010.

Um comentário:

Catia Zílio disse...

Olá Valéria!
Teu registro está bem qualificado apresentando de forma clara e objetiva evidências e argumentos das tuas aprendizagens com embasamento teórico.
Concordo contigo que a oralidade é pouco explorada em sala de aula e acrescento que, nos momentos em que é explorada fundamenta-se na memorização e repetição de informações.
Acredito que tuas propostas, assim como a de outras colegas que visitei neste momento do estágio, são o primeiro passo para desenvolver a oralidade dos alunos.
Se tiver um tempinho sugiro que visite o blog da Rosilaine http://peadportfolio164242.blogspot.com/ e veja os relatos das atividades que ela desenvolveu priorizando as conversas entre os alunos. Participei de uma delas e pude ver como foi interessante.
Abraços, Cátia